Museu

Victor C
2 min readJan 20, 2019

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“ Lonely Statue”, Amber Meador

Dizem que coisas especiais merecem destaque.

Quando se vai ao museu, a primeira coisa a ser notada são o quão imponentes as coisas ali exibidas são. Desde a mais alta estátua até o mais reles fragmento, todos estão ali, em seus tronos privados, em suas jaulas de vidro, seus assentos rubros e felpudos. Tudo ali passa um ar de vivência, de história, e acima de tudo, de importância. Museu emana “coisa rara”. Essa é a energia.

O que me leva ao outro lado da moeda.

Já me disseram “especial”. Já me disseram “único”, “belo”. Já me disseram “exemplo de ser humano”, quem diria. Que todo ser humano deveria aspirar a ser como eu — coitados deles! — e coisas mais. Com o passar dos anos, começou a pesar em mim uma certa frieza por trás dessas palavras, um quê de… não é “malícia” a palavra exatamente, algo mais pra leves tons de dissimulação. Porque ao se destacar algo, ao colocá-lo em um display para que todos admirem a obra, você acaba efetivamente afastando a obra de ver o mundo. Conviver com os demais.

Ela fica ali. Parada. Presa a si e a todo o seu “resplendor”, passageiro que seja, durando apenas o tempo de um breve tour antes que se retorne à solidão.

Qual o intuito de ser o destaque dessa gente, que diz me amar, mas de longe? Que atribui, a mim, um status de realeza à qual nunca pertenci; e que fique claro que jamais me achei digno desse destaque todo… para que me isolem do medíocre com o qual tanto almejo conviver? Há alguma responsabilidade nas palavras hoje em dia?

E assim, considero o outro lado da moeda. Sim, o museu tem história pra contar. A pergunta de verdade é se você quer mesmo ouvir, ou só veio admirar — excluir — aquilo que te causa tanta estranheza. Se veio para conhecer, tocar a alma daquilo, ou se é apenas um passeio ao zoológico.

Em resumo, apenas peço que sejam consideradas duas coisas: a beleza da mediocridade, e a solidão do destaque.

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Victor C
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Written by Victor C

autoridade em dragon ball, lenda do football manager, jornalista frustrado, ativista de saúde mental, modelo & atriz. escrevo mais quando tô triste.

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